domingo, 26 de agosto de 2007

AMIGOS DE DOMINGO

Meu telefone tocou num domingo de manhã... Um daqueles domingos em que acordamos tentando nos esconder da luz que entra pela fresta da janela, para evitar aquela dor de cabeça que insiste em continuar acompanhando a batida da música da balada da noite anterior.


Nunca achei que domingo fosse um dia ruim. Para a maioria das pessoas o domingo é ruim porque é véspera de segunda; permita-me discordar de afirmação tão sedimentada por gerações de trabalhadores, mas, para mim, no fundo o domingo é único dia que podemos diminuir a velocidade e ver a paisagem passar com mais atenção (as vezes uma paisagem não tão bonita) .

É o dia em que as emoções mais conflitantes e inebriantes são liberadas, numa espécie de refugo da catarse da semana. É como se experimentássemos um "tsunami" emocional durante a semana que passou, e agora resolvemos contabilizar tudo o que ainda sobrou de nós naquele monte de informação.

O dia está lindo, a empregada quebrou aquele MP4 de última geração que compramos na última viagem, conhecemos o amor das nossas vidas no último domingo, terminamos com o amor das nossas vidas ontem, perdi a promoção, odeio fila de supermecado no fim de semana, tenho que pagar as contas na segunda, perdi o último dia do filme do Almodovar que acabou de sair de cartaz, estou adorando um livro que comecei a ler...

É tanta paixão, dor, raiva, tédio, amor, suor, vazio que já não sei o que vou fazer com tudo isso.....ahhhh....já sei, vou ligar para o Marcio!!!!... às 9 da manhã de domingo. E sobrou para mim, pobre moribundo da balada anterior que cometeu o pecado de ter cara de ponto de exclamação.

Acho que não pode existir justificativa melhor para uma alma tão condescente como a minha poder perdoar o cidadão que liga para você às 9 da manhã de um domingo (e veja bem, não foi nem para noticiar a morte do Faustão, do Renan Calheiros e da sindica do seu prédio, todos num avião que acabou de cair no quarto do Bush na Casa Branca).

Então, agora vocês hão de convir que tenho um bônus e ganhei o direito de falar mal do meu amigo para inaugurar o meu blog num domingo a noite. Bem, atendi ao telefone e ouvi aquele "Bom dia Amigo" retirado daquele porão empoerado que meu amigo ainda tem no fundo daquele coração egocêntrico.

Aquele cumprimento me deu arrepios, o que ajudava a aumentar a batida trazida pela luz na fresta da janela... afinal um "Bom dia amigo!" vindo daquele "amigo" soava como se ele estivesse dizendo: tenho alguns sentimentos me atormentando e estão pesando um pouco, como tive a bondade de dizer "Bom dia Amigo!", agora você tem a obrigação de me escutar e diminuir esse peso das minhas costas...Imagina!
Tudo em troca daquele mal fadado cumprimento forçado. Ele começou a se lamentar e a falar de uma loooonga estória da sua última paixão que o estava assombrando naquela manhã nublada de domingo. Meu amigo era daquelas pessoas que se apaixonam por alguem sem a outra pessoa não ter tempo nem de lembrar que elas existem, enfim, um poço de necessidades que nunca conseguia ser preenchido.

Enfim, depois de eu ter cochilado umas três vezes durante o seu discurso, ele finalmente terminou a longa estória e agora queria que eu desse para ele a receita de como sair dessa, ou seja, ao inves de ir ao analista, veio a mim...pobre moribundo.

Disse a ele que acredito que as pessoas devem lutar para manter a segurança e o equilíbrio em suas vidas, mas tem alguns que vivem arrancando suas raizes o tempo todo e vão atrás de cada pessoa ou fantasia que lhe passa pela frente.

Continuei dizendo que era um egoista, pois as suas emoções eram intensas demais e nunca se dirigiam aos seus alvos, mas tão-somente a ele mesmo, às suas expectativas, a uma realidade que ele criou, e que ninguem tinha que pagar por elas, que era o tipo de carente que todos nós, consciente ou inconscientemente, queremos distância.

Ele desligou o telefone na minha cara....acredita?????
Na realidade, nem amigo meu ele era, porque amizades que você utiliza para tapar os buracos feitos por você mesmo e que, ainda vive sobre a ditadura de ter que dizer o que ele quer que dissemos ,é o tipo de amigo que estou correndo.

Além de não beber muito no sabado à noite, a conclusão que tirei dessa conversa foi a seguinte:

Continuo um cara legal, todo a ouvidos, mas por favor, se você quer realmente resolver ou discutir um problema com seu amigo, primeiro pare para pensar e ver qual é a dinâmica desse problema, se o problema é você e a maneira com que encara as coisas, o caminho é uma viagem dentro de você.

Se o problema não for seu, ficarei muito grato em ajudar, mas se estiver dentro de você a resposta, estarei prestando um desserviço à sua existência se tentar ficar lembrando a você de quem você é.

Dê um tempo a seu ego, enxergue um pouco mais para dentro de si, tenho certeza que você vai encontrar muita coisa ai dentro que só você poderá ver e resolver (Até nisso as pessoas querem economizar tempo).

Tenho o prazer em ser seu amigo e continuar a te dar conselhos, mas soluções é com você e uma descoberta sua...não tenho como fazer esse caminho por você.

A resposta para nossos questionamentos geralmente está dentro de nós mesmos, dispa-se de conceitos pré-concebidos e verá o quanto transitar dentro de nossas mentes e chegar às nossas próprias conclusões faz bem para a nossa alma e nos ajuda a entender a necessidade de deixar crescer as raízes da nossa existência, e ainda garante uma das coisas mais importantes do mundo: Manter os amigos sempre por perto.